quinta-feira, 15 de julho de 2004

ânsia

Trazias a névoa na ponta dos dedos; trazias a aurora do princípio das coisas; trazias contigo a harmonia do caos em que transformaste o meu coração parado.
No início, eras tu com a palavra certa, ou talvez fosses apenas a palavra…
Como tu, também eu ansiava por histórias, plenas de promessas e de pausas.
Quando aparecias, estremecia o mundo, todo eu tremia e desejava mais.
Mais do que trazias nos teus braços quentes, mais do que prometias nos teus sonhos raros.

Porque é que não falas ? - sussurravas baixinho, enquanto fazíamos amor na penumbra. Animais com cio, apagavas as luzes e os pudores e inventávamos as fragrâncias urgentes de um destino breve.
Porque não falava? Talvez por as palavras serem como brisas, como espelhos deformados e indiscretos que acrescentam mentiras no fundo das imagens que reflectem.
-Beija-me!
Beijo-te. Abafo-te as palavras. Ouço-te os murmúrios e os espasmos. Fariam falta as palavras a esse rio, a essa ânsia?
A esse suave entardecer dos corpos, quando tu dizias que me amavas.