sexta-feira, 11 de setembro de 2009

Bellissimo

Tarde de Outono

Uma atrás de outra, as folhas vão caindo

abraçando, inerte, o pó da terra;

castanhas, cansadas, completas,

desprendem-se sem pena e sem revolta.

Uma após outra, as ilusões feridas

moribundas, secas e murchadas

despem-se do sonho que as cria

e engrossam a poeira das estradas.

Sentença

O que mais tememos não é a morte mas o desconhecido.

quarta-feira, 9 de setembro de 2009

Herói

Tomara eu ser o herói que imaginas
ou a sombra, só, do que aparento
o cow-boy trazido pelo vento
cavalgando nas encostas das colinas


Ter metade da altura que me dás
e o dobro da força que me emprestas
para me convencer que sou capaz
de eliminar do mundo certas bestas

Crónica

Hoje roubei a Visão no Café, contrabandeada na mala de uma amiga ( o que cabe numa mala de senhora!), só para ler a crónica do Lobo Antunes. Tenho vários livros dele (todos comprados - é bom que se diga) inclusive os dois Livros de Crónicas mas não é a mesma coisa. Prefiro rasgá-las das revistas, lê-las e guardá-las numa capa onde se amontoam folhas e recortes da mais variada proveniência. O escritor não sei se gostará mas o homem que se vislumbra em muitos escritos de certeza que me apoia e prefere que eu actue desta maneira.
Também fiz uma festa aos meus gatos. As crias fizeram um mês. Os pais (um verdadeiro “ménage à trois”), um ano e um mês. Ao menos festejam todos no mesmo dia. Um fartote de Whiskas, miminhos, correrias e cabriolas...
E, pelo que ouço no quarto ao lado, a farra continua.

terça-feira, 1 de setembro de 2009

Encontro de ocasião


Português, andarilho, 56 anos. 20 anos em Angola, 7 em Serpa, 3 não sei onde...
Fernão Mendes Pinto deste tempo.
Hora e meia de conversa fortuita frente a uma travessa de vitela assada e uma garrafa de espadal.
Tantas memórias, tantas histórias! Com a voz serena e cansada de quem consegue entender as tramas da guerra mas não as teias da burocracia.

Ai Timor...

Passaram dez anos sobre o referendo em Timor Leste.

Timor foi a última grande causa nacional. Depois tivemos o Euro 94 mas isso foi mais folclore.
Foi, talvez, a última vez que nos mobilizamos como nação para, de forma generosa e desinteressada, ajudar a reparar uma injustiça. Claro que talvez a má consciência não nos permitisse dormir em paz ou saborear devidamente as telenovelas a seguir aos relatos e às imagens das atrocidades para com um povo que, nos confins do mundo, em nós confiava e que abandonámos à sua sorte.
Um povo que nos deu a nós e ao mundo uma das maiores lições de resistência, de coragem e de fé de que há memória.

Depois esquecemo-los outra vez, é verdade. A consciência nacional tem limites. E também precisa de descanso...