sexta-feira, 30 de maio de 2008

Pássaro ferido

Vieste de mansinho, quase a medo

em segredo como convém a uma ave em fuga.

Estavas bela, triste e transparente

e eu, ausente, sonhava com a lua.

Pensamento

Depois de ter criado tantas convenções para respeitar, tantas grilhetas que o aprisonam, tantos deveres que o impedem de ser feliz porque é que se continua a dizer que o homem é o único animal inteligente?!!

Até dos dias mais estéreis se pode retirar algo que valha a pena lembrar.

terça-feira, 27 de maio de 2008

Magia

O Bolero de Ravel coreografado por Béjard. ...ou a essência de que são feitos os sonhos

quinta-feira, 22 de maio de 2008

Depressão

Um feriado com chuva (como deviam ser todos, aliás) propício às artes caseiras da preguiça e da contemplação. Às voltas no sofá e com a cabeça às voltas como um adolescente deprimido. E a culpar o tempo pela frivolidade e vazio das horas.
Mas, pensando bem, deve haver qualquer coisa errada com o clima. Talvez até se justifique o alarme dos ambientalistas. Já é Maio e mais parece Inverno.
Quem se deve estar a rir é a Senhora das Candeias!...

terça-feira, 13 de maio de 2008

Valores

  • "O que me inveja não são esses jovens, esses fintabolistas, todos cheios de vigor. O que eu invejo, doutor, é quando o jogador cai no chão e se enrola e rebola a exibir bem alto as suas queixas. A dor dele faz parar o mundo. Um mundo cheio de dores verdadeiras pára perante a dor falsa de um futebolista. As minhas mágoas que são tantas e tão verdadeiras e nenhum árbitro manda parar a vida para me atender, reboladinho que estou por dentro, rasteirado que fui pelos outros. Se a vida fosse um relvado, quantos penalties eu já tinha marcado contra o destino?"
A um mês do começo de uma nova campanha de exaltação patriótica e de entronização de heróis de ocasião, talvez valha a pena ler Mia Couto e reflectir um bocadinho sobre a natureza da nossa escala de valores.

Jogo de lágrimas

Mesmo que nos julguemos preparados para tudo, ainda assim a vida, consegue, às vezes, abater-nos com caprichos imbuídos da mais pura crueldade.
O episódio registado, hoje, no estádio do Vizela é digno de figurar em qualquer antologia do sofrimento: quatro mil gargantas, a escassos minutos de completar o sonho, passaram assombradas, da estridente alegria para o mais desencantado silêncio.
Ninguém morreu (ao que consta) e a vida continua mas, acredito que, nenhum dos presentes esquecerá jamais esse remoinho de desilusão. E, para mim, fica a ideia de que o silêncio pode ser a mais crua e comovente expressão do desespero.

sábado, 3 de maio de 2008

DesMaio

  • "Aunque éste sea el último dolor que ella me causa, y éstos sean los últimos versos que yo le escribo."
Pena de já ser Maio e tu não estares.
Ser Maio outra vez na tua ausência
e ter a tua imagem nos meus olhos vívida e presente.
Ver as folhas mudar no calendário,
brotarem outras novas e tão verdes,
ver florir o verde na paisagem- dizem que é esperança tanto verde-
E eu sem fé, sem norte, e sem vontade.
Sabes que, às vezes, o desejo de inventar o teu corpo
e descobrir-te
sobrepõe-se ao eco dos teus gritos,latentes, latejando em minhas fontes?...
E sofro vastos dias de ressaca da bebedeira antiga que não curo.

quinta-feira, 1 de maio de 2008

Balanço

  • ao fim e ao cabo vivemos poucos versos
    de um poema inacabado e imperfeito
    só com o tempo é que se ganha jeito
    e vontade para ligar sonhos dispersos
Todas as relações ficam incompletas. No fim, há tanto ainda por dizer…

Noite

  • The still waters of the water under a frond of stars. The still waters of your mouth under a thicket of kisses.
A tua sombra na parede do quarto. Os meus braços na tua cintura. A tua luz a encher a noite.
-Pára!
O tempo parado. A tua cabeça no meu peito. Os meus dedos nos teus cabelos. O teu calor na minha pele.
Dormir e acordar com a sensação um pouco longínqua, como se ainda de sonho se tratasse, de que, mais tarde, quando o relógio bater as horas certas, voltaremos a ser estranhos outra vez.