terça-feira, 28 de agosto de 2007

estrelas

Dizem que as estrelas são estradas
secretas vias sacras circundantes
onde pagadores de promessas recusadas
caminham cegos como judeus errantes

dizem que as estrelas são instantes
na planura insana e desabrida
onde se encontram e perdem os amantes
em parcos desencontros de fugida

dizem que as estrelas são lembranças
de mágoas intensas e breves alegrias
que se passeiam no céu como crianças
à procura da alma de outros dias

Dizem que as estrelas são o vento
onde vagueiam as almas solitárias
entre véus de memória e esquecimento
sobre abismos negros e feridas várias

dizem que as estrelas são os vultos
peregrinos exaustos em pedaços
dos sonhos esquecidos e ocultos
em jardins suspensos no espaço

há quem diga que as estrelas são fantasmas
eu digo que as estrelas são mistérios



sábado, 25 de agosto de 2007

Mal-entendido

-Fala comigo! Senão parecemos robots…
-Diz-me uma coisa gira. Vá, diz!
-Já viste aquele casal ali sentado há que tempo e ainda não disseram uma palavra. Eu não quero ser assim. Nós nunca vamos ser assim.
Acabámos por nos entender.
E desentendermo-nos passado algum tempo.
Porque as palavras tanto são violinos como chicotes, tanto são laços como láminas.
E, para ti, as palavras não passam de uma máscara que usas para confundir os outros.
Mas, mesmo agora, quando o telemóvel vibra no silêncio, ainda corro, esperançado de ver o teu nome no écran... mas nunca és tu.

Desencontro

-Olá! Vens jantar comigo?
-Já tenho um jantar marcado com uns amigos. Podias ter dito mais cedo…

Pois… deslocar-me 50 km. pra te fazer uma surpresa não merecia outra coisa!

Velhice

Está um cão deitado no tapete à entrada do prédio. Cão velho, alquebrado. Passam as pessoas, levanta-se, deixa passar, volta a deitar-se. Sem um resmungo, sem um rosnado. Apenas uma imensa tristeza nos olhos cansados. Como se pedisse desculpa pelo incómodo. Ou pedisse perdão por ainda estar vivo.
Também há pessoas assim...

terça-feira, 21 de agosto de 2007

Cultura

( Do Boletim Municipal) “A Câmara Municipal de Vizela ratificou no passado dia 27 de Julho, em Frontignan La Peyrade, o Protocolo de Geminação com aquela localidade francesa, que havia sido assinada em Vizela a 19 de Março último.
O Município de Vizela fez-se representar ao mais alto nível, através da participação dos presidentes da Câmara e da Assembleia Municipal. Porque a Geminação de cidades europeias é, acima de tudo, um encontro de cidadãos, participaram igualmente nesta visita ….”

Interessante, digo eu, para aprofundar os laços de amizade e o intercâmbio cultural entre dois povos.
A julgar pelos interesses dos (alguns) elementos que compunham a embaixada vizelense, deve ter estar para breve a realização do I Grande Torneio Luso-francês de Sueca … ou de Loba.

Até um dia

“A cidade está deserta,
E alguém escreveu o teu nome em toda a parte:
Nas casas, nos carros, nas pontes, nas ruas.
Em todo o lado essa palavra
Repetida ao expoente da loucura!
Ora amarga! ora doce!
Pra nos lembrar que o amor é uma doença,
Quando nele julgamos ver a nossa cura!”

Vieram-me estes versos à memória, ao passear em Vizela, ontem à noite. Tristes, abandonados e infelizes, desterrados parecem ser os que ficaram.
Mas nem tudo é mau, mesmo à hora de almoço não faltam lugares de estacionamento e não há filas em lado algum. Nem mesmo nas caixas do Minipreço!!
Também me lembrei que os Ornatos tocaram em Vizela, aqui há uns anos. Juntamente com outras bandas, num festival organizado pela Márcia Castro (olá doutora! Um dia também vou falar de ti.), que teve lugar na Praça. Para meia dúzia de ouvintes. Como não foi organizado pela Câmara nem os funcionários municipais tiveram que marcar presença. E, se bem me lembro, também não havia barracas de farturas…

Calma

O prazer do fim de tarde numa esplanada quase deserta. A satisfação pura de ver o tempo passar de mansinho entre dois goles de cerveja e a leitura de um jornal.

AUSÊNCIA

"Num deserto sem água
numa noite sem lua
num país sem nome
ou numa terra nua
por maior que seja o desespero
nenhuma ausência é mais funda do que a tua."

Sophia

E que mais dizer, excepto repetir os seus versos no silêncio?

segunda-feira, 20 de agosto de 2007

Súplica

"Devolve-me os laços, meu amor."

Torga

"Orfeu rebelde, canto como sou:
Canto como um possesso
Que na casca do tempo, a canivete,
Gravasse a fúria de cada momento;
Canto, a ver se o meu canto compromete
A eternidade no meu sofrimento."

Miguel Torga foi um dos ícones literários da minha juventude.
A sua imagem de poeta aflito, atormentado, de cidadão empenhado e consciente marcou, não apenas, a minha formação como a minha forma de vida.
Hoje, confesso, não consigo encontrar na leitura dos seus versos o fascínio de outrora. Não que ache desajustado o tom agreste e confessional ou que tenha passado de moda a acuidade dos temas, mas, como hei-de dizer?, por sentir que falta espontaneidade na sua poesia.
É assim como um pássaro mecânico, hábil e trabalhosamente construído mas que, por mais alto que voe não consegue igualar em simplicidade e beleza o modelo vivo.

Ídolos das multidões

Paulo Coelho está para a literatura como Tony Carreira para a música. Voz fininha, falinhas mansas, mensagens directas ao coração… um olho no céu, o outro no banco, o místico e o romântico lá vão levando a vida.
A esperteza, mais do que a inteligência, é a grande virtude do tempo que vivemos.

A febre da bola

O FC Vizela esmagou o Beira-Mar no primeiro jogo da Liga Vitalis. Cem por cento de eficácia.
Ainda bem! Ao menos, que os resultados salvem o dia.

sexta-feira, 17 de agosto de 2007

Festas na cidade

Acabaram as festas em Vizela .
Quatro dias de êxtase. Foguetes logo ao raiar da aurora, bombos pelo dia fora e, à noite, o chinfrim do arraial completo.
Uma mixórdia de barulho, confusão e saloiada. Fornecimento contínuo de óculos, malas, relógios e outros artigos contrafeitos, a 5 euros a peça e parvoíce grátis.
Eu imagino assim o inferno da bíblia: bombos, foguetes, música pimba… e a emissão da RV em fundo!
Acabaram as festas. Que pena! Fica a saudade...e o cheiro a urina pelos cantos.