segunda-feira, 20 de agosto de 2007

Torga

"Orfeu rebelde, canto como sou:
Canto como um possesso
Que na casca do tempo, a canivete,
Gravasse a fúria de cada momento;
Canto, a ver se o meu canto compromete
A eternidade no meu sofrimento."

Miguel Torga foi um dos ícones literários da minha juventude.
A sua imagem de poeta aflito, atormentado, de cidadão empenhado e consciente marcou, não apenas, a minha formação como a minha forma de vida.
Hoje, confesso, não consigo encontrar na leitura dos seus versos o fascínio de outrora. Não que ache desajustado o tom agreste e confessional ou que tenha passado de moda a acuidade dos temas, mas, como hei-de dizer?, por sentir que falta espontaneidade na sua poesia.
É assim como um pássaro mecânico, hábil e trabalhosamente construído mas que, por mais alto que voe não consegue igualar em simplicidade e beleza o modelo vivo.

Sem comentários: